U M A B R E V E I N T R O D U Ç Ã O À S L E T R A S D E S T E S E M E S T R E
Quando pensamos em Flamenco pensamos automaticamente em alguns elementos que compoem sua liga artística: o Cante, o Baile e o Toque.
Do ponto de vista do Baile, temos que ter em mente que não dá para ignorar o que nos diz o Cante. Não dá para "colar" mecanicamente as seqüências de passos aprendidos nos inúmeros cursos que fazemos, sem amarrar o conteúdo corporal à história que precisamos "contar". Essa história a ser contada está intimamente relacionada com a compreensão daquilo que nos diz o Cante e da capacidade de exteriorizarmos a nossa própria experiência de vida de forma espontânea e autêntica. Como fazer? Precisamos deixar fluir - unica e exclusivamente porque o corpo não é capaz de esconder aquilo que já viveu.
E isso está à léguas de "pregar um sorriso no rosto" (como diria a nossa Paula Andrade) num Baile por Tangos só porque sabemos que, originalmente, o Tangos faz parte de um grupo de Bailes Festeros.
Entender a proposta que o Cante faz ao nosso corpo é um exercício. Mas esse exercício pode ser surpreendentemente delicioso porque, com ele, aprendemos a colocar mais ALMA em tudo o que fazemos.
O Flamenco é, sim, uma das manifestações da cultura espanhola de maior evidência em todo o mundo mas isso não significa que é necessário ser espanhol (e/ou mais precisamente, andaluz) para que nosso Baile, Cante e Toque sejam convincentes. Podemos, como referência, aportar ao Flamenco que fazemos o sofrimento experimentado pelo nativo de solo brasileiro na época da colonização e pelos negros trazidos da África para servir como escravos aos Senhores de Engenho que tinham, de maneira semelhante, o canto, o toque e a dança como instrumentos exorcizadores destas e de outras penas. Vale lembrar que estes "instrumentos" influenciaram ativamente toda a arte e a cultura do nosso país.
Ainda que precisemos respeitar o berço do Flamenco e todas as circunstâncias históricas que determinaram o seu surgimento, o "acento" brasileiro pode e deve ser utilizado como ponte entre culturas. Isso porque existe algo no Flamenco que é comum a todas as manifestações artísticas e culturais. Ele é uma forma de linguagem. O Baile dialoga com o Cante e o Toque é o facilitador harmônico que amarra todo o processo.
Mais que uma forma de Arte, o Flamenco é uma forma de expressão e, como tal, acabou sendo assimilada por artistas de diversas partes do globo. Isso porque as fronteiras geográficas se tornaram facilmente transpostas na atualidade, e nada é mais natural do que a aproximação e/ou fusão de diversas manifestações culturais. As fusões possibilitam o surgimento de novas idéias, novas manifestações artísticas e novos estilos musicais, mantendo a arte pulsante e atual.
Seguiremos conversando...
Abaixo estão algumas letras dos bailes trabalhados neste semestre, tiradas ("al oído") por Leonardo Mordente, Manu Ángel e Paula Andrade. Estamos abertos a correções. (tirititran@terra.com.br).
Tangos I
Ay, por la calle vá y viene
la gitana que yo quiero
Ay, no se le ve la cara
Ay, "mare", con el sombrero
Ay, no te pongas "colorá"
que esa carita/cara que tienes
y a mi no me dice "ná"
Glossário:
Tangos II
Sant’Ana...
Graná tiene un rastrillo
En la iglesia de Sant’Ana
Donde van los flamenquitos
Y a mirar por la mañana
Y vos, y vos
Darte la vuelta ligero
Como se la da el reloj
Ay no me pegues bocaíto
Que tú me haces cardenales
Cuando tú llegas a tu casa
Qué tú se lo dice a tu “pare"?
Ay, “mare”, Lelele...
Ay, lere...
Glossário:
Alegrias
Que más puedo pedir si estoy aquí contigo
Y en cada amanecer y me regala un suspiro
Que más puedo pedir si vivir es lo que pido
Y un farolillo de luz alumbre nuestro camino
Que me llama la atención
Dos cositas tiene Cai
Que és la mocita de mi barrio
y la plaza San Juan de Dios
Que esta mujer es bonita la de mi "Cai"
Que parte los corazones con su sacai
Su carita en ton del alba
Cuando te miro y no te veo
A ver si regresa pronto
A esa tierracita de España
En Aragón, Agustina y en Cai, la Lola
demostraron al mundo ser españolas
Dime lo que tienes, Carita de Rosa
Dime lo que tienes, que estas tan llorosa
Que estas tan llorosa, que estas tan llorosa, que estas tan llorosa
Dime lo que tienes, dime que te pasa, dime lo que tienes Carita, Carita de Rosa
Glossário:
Soleá por Bulerías
Ay...
hablar con Dios yo quiero
quería confesar
El que es malo y se arrepiente
lo deben perdonar
tu querer es como el viento
tu querer, primita mía, es como el viento
el mío, como la piedra, ay
que no tiene movimiento
Glossário:
Bulerías
Ay...
Mi primito Manuel
Que a mi me vende burrito/burro cano
Porque me hace falta el parné
Ay, no tires agua a la calle
Que te van hacer una multa
Los guardias municipales
Pero que mira que te digo
que te voy hacer un caminito
de tu casita a la mia
pá poder yo ir hablar contigo
Glossário:
Colombiana
Ay...
Quisiera, cariño mio,
Que tu nunca me olvidaras
Ay, que tus lábios con los míos
En un beso se juntaran
Ay no hubiera nadie en el mundo
Nadie que nos separara
Ay ven a mí, Ay ven a mi
Cantemos los dos
Ay, Que cantando la colombiana
Se pasa la vida que és mucho mejor
Sevillanas
Voy a sacar a bailar
A la del vestio graná
A la del vestio graná
Con ella voy a empezar
A bailar por sevillanas
(ESTRIBILLO)
Voy a sacarla a bailar
Por si bailando me olvido
Por si bailando me olvido
Que la que me gusta a mi
No quiere bailar conmigo
Voy a sacar a bailar
A la de los ojos verdes
A la de los ojos verdes
Tiene tan verde mirar
Que al mas tranquilo lo pierde
Voy a sacar a bailar
A aquella que esta sentada
A aquella que esta sentada
Porque hace un buen rato ya
No me quita su mirada.
Voy a sacar a bailar
A la más indiferente
A la más indiferente
Que me está haciendo pasar
Lo que no sabe la gente.
Do ponto de vista do Baile, temos que ter em mente que não dá para ignorar o que nos diz o Cante. Não dá para "colar" mecanicamente as seqüências de passos aprendidos nos inúmeros cursos que fazemos, sem amarrar o conteúdo corporal à história que precisamos "contar". Essa história a ser contada está intimamente relacionada com a compreensão daquilo que nos diz o Cante e da capacidade de exteriorizarmos a nossa própria experiência de vida de forma espontânea e autêntica. Como fazer? Precisamos deixar fluir - unica e exclusivamente porque o corpo não é capaz de esconder aquilo que já viveu.
E isso está à léguas de "pregar um sorriso no rosto" (como diria a nossa Paula Andrade) num Baile por Tangos só porque sabemos que, originalmente, o Tangos faz parte de um grupo de Bailes Festeros.
Entender a proposta que o Cante faz ao nosso corpo é um exercício. Mas esse exercício pode ser surpreendentemente delicioso porque, com ele, aprendemos a colocar mais ALMA em tudo o que fazemos.
O Flamenco é, sim, uma das manifestações da cultura espanhola de maior evidência em todo o mundo mas isso não significa que é necessário ser espanhol (e/ou mais precisamente, andaluz) para que nosso Baile, Cante e Toque sejam convincentes. Podemos, como referência, aportar ao Flamenco que fazemos o sofrimento experimentado pelo nativo de solo brasileiro na época da colonização e pelos negros trazidos da África para servir como escravos aos Senhores de Engenho que tinham, de maneira semelhante, o canto, o toque e a dança como instrumentos exorcizadores destas e de outras penas. Vale lembrar que estes "instrumentos" influenciaram ativamente toda a arte e a cultura do nosso país.
Ainda que precisemos respeitar o berço do Flamenco e todas as circunstâncias históricas que determinaram o seu surgimento, o "acento" brasileiro pode e deve ser utilizado como ponte entre culturas. Isso porque existe algo no Flamenco que é comum a todas as manifestações artísticas e culturais. Ele é uma forma de linguagem. O Baile dialoga com o Cante e o Toque é o facilitador harmônico que amarra todo o processo.
Mais que uma forma de Arte, o Flamenco é uma forma de expressão e, como tal, acabou sendo assimilada por artistas de diversas partes do globo. Isso porque as fronteiras geográficas se tornaram facilmente transpostas na atualidade, e nada é mais natural do que a aproximação e/ou fusão de diversas manifestações culturais. As fusões possibilitam o surgimento de novas idéias, novas manifestações artísticas e novos estilos musicais, mantendo a arte pulsante e atual.
Seguiremos conversando...
Abaixo estão algumas letras dos bailes trabalhados neste semestre, tiradas ("al oído") por Leonardo Mordente, Manu Ángel e Paula Andrade. Estamos abertos a correções. (tirititran@terra.com.br).
Tangos I
Ay, por la calle vá y viene
la gitana que yo quiero
Ay, no se le ve la cara
Ay, "mare", con el sombrero
Ay, no te pongas "colorá"
que esa carita/cara que tienes
y a mi no me dice "ná"
Glossário:
- Gitana - Adj. ou Subst. que faz referência ao povo nômade que chegou a Península Ibérica por volta do século XV.
- Colorá (colorada) – corada, vermelha.
- Ná (nada) – nada.
- Saiba mais sobre este palo no post sobre Tangos.
Tangos II
Sant’Ana...
Graná tiene un rastrillo
En la iglesia de Sant’Ana
Donde van los flamenquitos
Y a mirar por la mañana
Y vos, y vos
Darte la vuelta ligero
Como se la da el reloj
Ay no me pegues bocaíto
Que tú me haces cardenales
Cuando tú llegas a tu casa
Qué tú se lo dice a tu “pare"?
Ay, “mare”, Lelele...
Ay, lere...
Glossário:
- Graná (Granada) – Cidade capital da província andaluza de mesmo nome. Além do Flamenco, Granada encanta por patrimônios históricos: a Alhambra (“Qal'at al-hamra” que significa “fortaleza roja” - complexo de constituído por fortaleza e palácios com decoração islâmica e que abrigava a corte do Reino de Granada), os Jardins do Generalife (Vila de jardins ornamentais, construída entre os séculos XII e XIV, utilizada pelos reis mulçumanos de Granada como lugar de descanso), Sacromonte e Albaicín.
- Iglesia de Sant’Ana – Situada aos pés da Alhambra num amplo espaço denominado Plaza Nueva faz parte do conjunto de arte mudéjar - estilo artístico que se desenvolve nos reinos cristãos da Península Ibérica, mas que incorpora influências, elementos o materiais de estilo hispano-muçulmano.
- Bocaíto – Mordida
- Cardenales – Hematomas
- Pare – Padre (Pai)
- Mare – Madre (Mãe)
- Saiba mais sobre este palo no post sobre Tangos.
Alegrias
Que más puedo pedir si estoy aquí contigo
Y en cada amanecer y me regala un suspiro
Que más puedo pedir si vivir es lo que pido
Y un farolillo de luz alumbre nuestro camino
Que me llama la atención
Dos cositas tiene Cai
Que és la mocita de mi barrio
y la plaza San Juan de Dios
Que esta mujer es bonita la de mi "Cai"
Que parte los corazones con su sacai
Su carita en ton del alba
Cuando te miro y no te veo
A ver si regresa pronto
A esa tierracita de España
En Aragón, Agustina y en Cai, la Lola
demostraron al mundo ser españolas
Dime lo que tienes, Carita de Rosa
Dime lo que tienes, que estas tan llorosa
Que estas tan llorosa, que estas tan llorosa, que estas tan llorosa
Dime lo que tienes, dime que te pasa, dime lo que tienes Carita, Carita de Rosa
Glossário:
- Cai (Cádiz) – Cidade capital da província andaluza de mesmo nome. Forma com a Campina de Jerez e Jerez de la Frontera a região metropolitana da Bahia de Cádiz. Trata-se da cidade mais antiga do Ocidente (com mais de 3100 anos). Sob o ponto de vista da “geografia do cante flamenco”, encontra-se numa área denominada “Cádiz y los Puertos”, território cujos palos mais característicos são aqueles de caráter “festero”, como as cantiñas (grupo de palos que incluem as Alegrias, Caracoles, Romeras e Mirabrás) assim como os Tangos, os Tanguillos e as Bulerías de Cádiz. Também são característicos deste entorno alguns cantes mais jondos como as Siguiriyas e as Soleares de Cádiz.
- Plaza San Juan de Dios – Considerada a primeira praça de Cádiz (sua construção teve início no século XV). Fora do amuralhado medievaldois bairros começavam a se formar: o de Santa Maria (à leste) e o de Santiago (a oeste). O Amplo espaço entre ambos se converteu nesta praça que no início era chamada “Corredera de las Aguillas” ou somente “Corredera”. De acordo com o momento histórico a Praça San Juan de Dios recebeu outros nomes tais como: Plaza Real, Plaza de Armas, Plaza de la Misericordia, Plaza de Isabel II, Plaza del Pueblo e Plaza República. Com a demolição das muralhas, em 1906, a Plaza San Juan de Dios ganhou mais amplitude.
- Sacais - Termo caló para “olhos”.
- Aragón – Comunidade Autônoma espanhola, situada na região norte do país, resultante do reino histórico de mesmo nome. Tem como capital a cidade de Zaragoza.
- Agustina de Aragón – Foi uma heróica defensora de Zaragoza na Guerra da Independência Espanhola. Ela fazia parte de um grupo de mulheres que atendia feridos da guerra e consiguiu disparar um canhão sobre as tropas francesas que corriam para a entrada aparentemente indefesa. Temendo uma emboscada, os franceses bateram-se em retirada e novos defensores fecharam as entradas, defendendo a cidade mais uma vez.
- La Lola (Lola Flores) – Também conhecida como “Lola de España” e “La Faraona”, Maria de los Dolores Flores Ruiz, nascida em Jerez de la Frontera (Cádiz) era a mais velha dos três filhos de um taberneiro com uma gitana. Desde sua infância chamou atenção por seu dom de imitar grandes figuras do cante e do baile folclórico do momento. Seu pai apostou no futuro artístico da pequena Lola e decidiu mudar-se para Madrid. Aos 14 anos, Lola conseguiu seu primeiro contrato como bailarina para atuar nos intervalos entre atos de um teatro madrilenho. Esse pequeno espaço foi suficiente para que a pequena comprovasse seu talento, apoiado num temperamento extraordinariamente forte. Começou a trabalhar com Manolo Caracol e nos anos 40 veio a triunfar nos palcos de toda a Espanha já no comando de sua própria companhia. La Lola é um ícone da história da Espanha, faz parte do imaginário coletivo e define a mulher andaluza.
- Saiba mais sobre este palo no post sobre Alegrias.
Soleá por Bulerías
Ay...
hablar con Dios yo quiero
quería confesar
El que es malo y se arrepiente
lo deben perdonar
tu querer es como el viento
tu querer, primita mía, es como el viento
el mío, como la piedra, ay
que no tiene movimiento
Glossário:
- Arrepiente – do verbo arrepentirse = arrepender-se.
- Saiba mais sobre este palo no post sobre Soleá por Bulerías.
Bulerías
Ay...
Mi primito Manuel
Que a mi me vende burrito/burro cano
Porque me hace falta el parné
Ay, no tires agua a la calle
Que te van hacer una multa
Los guardias municipales
Pero que mira que te digo
que te voy hacer un caminito
de tu casita a la mia
pá poder yo ir hablar contigo
Glossário:
- Cano – velho.
- Parné – dinheiro.
- Saiba mais sobre este palo no post sobre Bulerías.
Colombiana
Ay...
Quisiera, cariño mio,
Que tu nunca me olvidaras
Ay, que tus lábios con los míos
En un beso se juntaran
Ay no hubiera nadie en el mundo
Nadie que nos separara
Ay ven a mí, Ay ven a mi
Cantemos los dos
Ay, Que cantando la colombiana
Se pasa la vida que és mucho mejor
Sevillanas
Voy a sacar a bailar
A la del vestio graná
A la del vestio graná
Con ella voy a empezar
A bailar por sevillanas
(ESTRIBILLO)
Voy a sacarla a bailar
Por si bailando me olvido
Por si bailando me olvido
Que la que me gusta a mi
No quiere bailar conmigo
Voy a sacar a bailar
A la de los ojos verdes
A la de los ojos verdes
Tiene tan verde mirar
Que al mas tranquilo lo pierde
Voy a sacar a bailar
A aquella que esta sentada
A aquella que esta sentada
Porque hace un buen rato ya
No me quita su mirada.
Voy a sacar a bailar
A la más indiferente
A la más indiferente
Que me está haciendo pasar
Lo que no sabe la gente.
- Saiba mais sobre este palo no post sobre Sevillanas.
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