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Manu Ángel.

domingo, 30 de março de 2008

SEviLLaNaS

As Sevillanas são canções folclóricas “aflamencadas” que nasceram para acompanhar o baile. Tiveram origem na baixa Andalucia e sempre fizeram parte das reuniões e festas desta região. Embora a sua origem remonte ao século XIX, este baile popular nunca deixou de ter destaque e é considerado referência da região andaluza. No entanto, devido à sua alegria e jovialidade, teve sua popularidade extendida a outras regiões da Espanha e, inclusive, a outros países.

Musicalmente, as Sevillanas são caracterizadas por uma melodia alegre acompanhada com o vigor adequado ao baile. As Sevillanas podem ser puramente instrumentais, mas o mais comum é que tenham cante executando a melodia. Podem incorporar vários instrumentos acompanhando seu rítmo: guitarra, castanholas ou “pandeireta”, que podem ser reforçados ou, simplesmente, substituídos pelas palmas.

Embora sua estrutura musical e coreográfica seja basicamente a mesma, existem diferentes formas para designar as Sevillanas. O que se deve tanto à sua origem como à circunstância em que são cantadas: existem Sevillanas “Boleras”, “Corraleras”, “Litúrgicas”, “De Feria” ou “Rocieras”.

As Sevillanas constituem-se como baile de “pareja”. Normalmente, este par é composto por homem e mulher, mas é igualmente comum ver duas mulheres dançando juntas. As Sevillanas são bailadas em séries de quatro e cada uma delas é, coreograficamente, diferente na forma de execução, levando o nome da sua posição cronológica: “primeira sevillana”, “segunda sevillana”, “terceira sevillana” e “quarta sevillana”. As quatro séries de coplas são executadas consecutivamente, existindo apenas um breve intervalo musical de silêncio ou de estribilho, entre elas.

Os temas das Sevillanas são variados mas, geralmente, trazem como conteúdo uma exaltação ao andaluz, em particular, ao sevillano. Dentre eles destacam-se: a cidade de Sevilla, a Feria, as romerías (sobretudo a del Rocío), a Semana Santa, a touros e toreiros, ao amor e aos costumes andaluzes. Nas letras das Sevillanas ainda podemos identificar temas “campesinos” e “marineros”, temas de humor, etc. De acordo com esse conteúdo temático, podemos dividir da seguinte forma as Sevillanas:
  • Sevillanas de Feria: São cantadas e bailadas na Feria de Sevilla.
  • Sevillanas Rocieras: São próprias da Romería del Rocío.
  • Sevillanas Corraleras: Eram cantadas e bailadas nos corrales de vecinos que existiam antigamente.
  • Sevillanas Litúrgicas: São lentas e tratam de temas da Semana Santa.
  • Sevillanas Boleras: São chamadas assim as sevillanas que tem influencia francesa, bailadas de forma própria , com grande dificuldade, o que faz com que sejam pouco executadas.
  • Sevillanas para escutar: São lentas e difíceis de bailar. O importante nelas é cante.

Como é um baile de galanteo, a pareja de homem e mulher representa, enquanto baila, todo o processo da conquista. Assim, o baile de cada copla das Sevillanas carrega em si um conteúdo específico sobre várias fases e possibilidades do relacionamento.

É muito difícil falar de uma maneira “correta” de se bailar Sevillanas, já que esta dança não se sujeita a regras que impeçam ou inibam a iniciativa de cada um. Este baile andaluz, como dança temperamental que é, exige uma grande parte de improvisação nos movimentos e nos gestos, cabendo a cada um dar ao baile o seu toque pessoal – colocando a tônica na graça (especialmente quando dançam duas mulheres), no “salero” ou na sensualidade (quando a pareja é composta por homem e mulher).

Cada uma das quatro Sevillanas contém passos característicos que devem ser respeitados e que permitem ao espectador identificar de imediato qual delas se está a bailar. Os movimentos mais peculiares são os “paseos”, as “pasadas”, os “remates” e os “careos”. No último compasso do cante, a música e o baile cessam simultaneamente e aqueles que estão a bailar incorporam uma pose garbosa e provocativa, dada a sua característica de “baile de galanteo”.

Na 1a SEVILLANA acontece a apresentaçao da “pareja”. Ela representa o encontro, onde um se oferece à vista do do outro. Os movimentos e a troca de olhares, durante o baile, carregam mensagens de galanteio e graça.

Mirala cara a cara que es la PRIMERA.
Que es la PRIMERA, mirala cara a cara, que es la PRIMERA.
Mirala cara a cara que es la PRIMERA.
Que es la PRIMERA, y la vas seduciendo a tu manera,
y la vas seduciendo a tu manera.
Esa gitana, esa gitana, esa gitana,
se conquiesta bailando por sevillanas.

A 2a SEVILLANA representa o momento mágico do primeiro contato em movimento. O bailaor cerceia a cintura da bailaora, enquanto ambos giram muito suavemente a compás do baile como se quisessem alargar o tercio.

Mirala cara a cara que es la SEGUNDA.
Que es la SEGUNDA. Mirala cara a cara, que és lá SEGUNDA.
Mirala cara a cara que es la segunda.
Que es la SEGUNDA, cogela por el talle, las caras juntas,
cogela por el talle, las caras juntas.
Esa gitana, esa gitana, esa gitana,
se conquiesta bailando por sevillanas.

A 3a SEVILLANA traz como conteúdo, ao primeiro rompimento. Os dois bailaores parecem querer afirmar ao outro, a todo instante, sua autonomia. É considerada a mais individual das Sevillanas.

Mirala cara a cara que es la TERCERA.
Que es la TERCERA. Mirala cara a cara, que es la TERCERA.
Mirala cara a cara que es la TERCERA.
Que es la TERCERA. Y veras con que gracia te zapatea,
y veras con que gracia te zapatea.
Esa gitana, esa gitana, esa gitana,
se conquiesta bailando por sevillanas.

A 4a SEVILLANA é caracterizada por uma troca contínua de posições e, metaforicamente, de papéis que delimita um ponto crucial. Esses “cambios”, assim como nos lances do Tarot, apresentam varias possibilidades para a relação bailada (inclusive o rompimento definitivo).

En la CUARTA los lances definitivos.
Definitivos. En la CUARTA, los lances definitivos.
En la CUARTA los lances definitivos.
Definitivos. Que se sienta en su vuelo pajaro herio,
que se sienta en su vuelo pajaro herio.
Esa gitana, esa gitana, esa gitana,
se conquiesta bailando por sevillanas.

Glossário:
  1. Baile: É a dança propriamente dita. Apresenta um caráter vivo e encontra-se em constante evolução, mas suas características básicas cristalizaram-se entre 1869 e 1929, a chamada idade do ouro do flamenco.
  2. Andalucia: Compreende a região sul da Espanha. É uma comunidade autônoma formada pelas províncias de Almería, Cádiz, Córdoba, Granada, Huelva, Jaén, Málaga e Sevilla com capital nesta última. A Andalucia é o berço do Flamenco.
  3. Cante: Conjunto de composições musicais em diferentes estilos que surgiram entre o último terço do séc. XVIII e a primeira metade do séc.XIX, devido a justaposição de modos musicais e foclóricos existentes na Andaluzia.
  4. Copla: Forma poética tradicional do cante flamenco. (1) Canção popular. (2) Estrofe geralmente de quatro versos octossílabos com rima assonante nos pares.
  5. Compás: Medida de uma frase musical com sua acentuação correspondente.
  6. Tercio: Cada um dos versos que compõem uma copla flamenca.
Referências de Vídeo:


Trecho do filme "Sevillanas" (de Saura)


Sevillanas no "Carboneras"


Los Bomberos, Sevillanas


Gerardo Nuñez, guitarrista, Sevillanas

Referências na Internet:

- Flamenco World - Artigo de Candela Olivo sobre Sevillanas
- Sevillanas.TV - Los mejores vídeos de Sevillanas
- Sevillanas Rocieras (MP3 demonstrativos com Letras)
- Las Sevillanas
- PhotoAlbum - Feria de Abril (Sevilla)

Referências no acervo do Tirititrán:

- Audio: MATCD001, MATCD002, MATMP3003.
- Leitura: MATLIV001, MATAPO001, MATAPO002.
- Vídeo: MATDVD022, MATDVD060.

Manu Ángel, bailarina, coreógrafa e professora de Flamenco assina este post.

Um comentário:

Anônimo disse...

Manu, este post está maravilhoso, nunca encontrei uma definição de sevillanas como essa! Parabéns!

Matheus Marvila
matheussmarv@hotmail.com

Marataízes - ES