la puerta donde yo llamar
Que yo no tengo, ay, no terelo
la puerta adónde yo llamar
A Siguiriya é, entre os cantes, aquele que melhor reflete a dor e o sofrimento em suas letras, em sua melodia. Apareceu no final do século XVIII (período de formação em que a guitarra foi acoplada ao cante) e sua prática foi acentuada em princípios do século XIX. É considerado cante derivado das Tonás (pelo caráter e, também, pela musicalidade) por vários motivos:
- Ao que tudo indica, primitivamente, eram cantadas sem guitarra como, todavia, se cantam as Tonás.
- A maioria dos bons intérpretes de Tonás foram considerados excelentes “siguiriyeros”.
- As Siguiriyas mais antigas conservam um claro aire de Tonás.
- Os temas expressados nas letras são muito afins no que diz respeito ao dramatismo e ao ambiente vital.
- A conseqüente facilidade com que a Siguiriya e a Toná se alternam e/ou se complementam ao serem cantadas, dentro da mesma tonalidade.
- Como forma curiosa de métricas irregulares, encontramos letras de Tonás muito semelhantes às de Siguiriyas.
É um cante dramático, forte, sombrio e desolador, que é considerado como um dos estilos expoentes da essência jonda do cante flamenco. Suas letras são tristes, sentimentais e refletem a tragédia humana, seus sofrimentos e dores relacionados aos eternos temas de amor e de vida e morte. É um dos cantes mais difíceis de serem interpretados pela quantidade de matizes. É fundamental que o(a) cantaor(a) tenha domínio sobre o cante para interpretar os tercios na métrica musical de seu compás.
Três “escolas” e “núcleos de germinação” são reconhecidos nas Siguiriyas mais antigas: as que correspondem às comarcas cantaoras de Cádiz y los Puertos, Jerez de la Frontera e ao bairro sevillano de Triana. As Siguiriyas Trianeras, por seu arcaísmo, têm sido as menos interpretadas e divulgadas, prevalecendo as de origem gaditana e jerezana, que prontamente se fizeram mais populares.
Ricardo Molina nos diz que as coplas antigas e autênticas não possuem pretensões artísticas, literárias ou teatrais. Representam a queixa direta da alma e nada mais. É muito importante que levemos isso em consideração. Diversos cantes admitem expressar frivolidades do cotidiano, à Siguiriya está vedada essa possibilidade. São incompatíveis com sua música e com sua natureza. A Siguiriya é o grito do homem ferido por seu próprio destino admitindo, somente, sentimentos mais profundos.
O baile é, da mesma maneira que o cante, um dos mais jondos do flamenco. É seco, sóbrio, solene e não admite adornos fáceis. É interpretado com um compás lento e pausado. Combina passos de punteado com desplantes, que neste caso, são fortes redobles, incluindo a escobilla na parte mediana do baile. O passo fundamental consiste em um andar rítmico, com golpes secos e sonoros que levam o(a) bailaor(a) a avançar e a retroceder sobre o mesmo sítio.
A solenidade do baile se manifesta já na salida, caracterizada por um largo paseo. Pode ser bailada, indistintamente, por homens e/ou mulheres, mas, o “temperamento forte” é pré-requisito. O primeiro bailaor deste estilo (ou pelo menos quem foi responsável por sua difusão) foi Vicente Escudero e, posteriormente, a bailaora Pilar López - responsável pela introdução do toque de castanholas no baile por Siguiriya.
Glossário
- Cante: Conjunto de composições musicais em diferentes estilos que surgiram entre o último terço do séc. XVIII e a primeira metade do séc.XIX, devido a justaposição de modos musicais e foclóricos existentes na Andaluzia.
- Tonás: Cante flamenco pertencente ao grupo dos Martinetes, Deblas e Carceleras.
- Aire: Termo que descreve a expressividade, a atmosfera ou caráter geral de uma performance flamenca.
- Jondo(a): Adjetivo que se aplica ao cante flamenco mais puro.
- Cantaor(a): Artista que canta Flamenco.
- Tercio: Cada um dos versos que compõem uma copla flamenca.
- Compás: Medida de uma frase musical com sua acentuação correspondente.
- Copla: Forma poética tradicional do cante flamenco. (1) Canção popular. (2) Estrofe geralmente de quatro versos octossílabos com rima assonante nos pares.
- Baile: É a dança propriamente dita. Apresenta um caráter vivo e encontra-se em constante evolução, mas suas características básicas cristalizaram-se entre 1869 e 1929, a chamada idade do ouro do flamenco.
- Desplante: É uma ruptura no baile que pode ser uma maneira de fixar um remate nas escobillas ou de finalizar a interpretação de uma falseta. Diz de um movimento repentino do corpo e não é regido pela hamonía da sucessão. Ao contrário, surpreende o próprio corpo e, conseqüentemente, o espectador com um corte marcante com carga ímpar de inspiração, imaginação e criatividade.
- Escobilla: É o solo de piés do bailaor. Como para o cante existem os "ayeos" e para o toque existem as "falsetas", o(a) bailaor(a) demonstra sua técnica na escobilla.
- Bailaor(a): Artista que baila Flamenco.
- Salida: De maneira simplória, a salida representa o início do cante.
Eva Yerbabuena, bailaora, Siguiriya
Alfredo Arrebola e Daniel Mora, Siguiriya
Carmen Reina, bailaora, Siguiriya
Referências na Internet
- Atenção! Referência obrigatória: Fonoteca de Siguiriyas
- Flamenco Word (Siguiriyas)
- Horizonte Flamenco (Siguiriya I)
- Horizonte Flamenco (Siguiriya II)
- Horizonte Flamenco (Siguiriya III)
- Horizonte Flamenco (Siguiriya IV)
- Horizonte Flamenco (Siguiriya V)
- Triste y Azul (Siguiriya)
Referências no acervo do Tirititrán:
- Audio: MATMP3003.
- Leitura: MATLIV001, MATAPO001, MATAPO002.
- Vídeo: MATDVD024, MATDVD046, MATDVD049, MATDVD054, MATDVD061.
Manu Ángel, bailarina, coreógrafa e professora de Flamenco assina este post.
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