Através do Flamenco – Cante, Baile e Toque – não só se reconhece e identifica a região de Andalucía no mundo, mas também o “espírito geral” do povo andaluz.
Granada é uma cidade e um município espanhol, capital da província homônima, situado na comunidade autônoma de Andalucía.
“Andalucía es mi tierra
el sur me ha visto nacer
Granada me dio la vida
y entre palmas y alegrías
y el sacromonte con sus gitanos
La Alhambra con su poder.
Si Granada no existiera
la tendrían que inventar
fue la musa de pintores,
de poetas y escritores,
y de bohemios enamoraos
Granada bronce y pasión”
[Tati Román – Granada, bronce y pasión]
Granada é, para o Flamenco, uma terra conservadora, imaginativa e criadora de formas flamencas que se remontam a época Nasrida (última dinastia mulçumana na Península Ibérica, responsável pela construção da Alhambra). Esse conceito que a cidade tem hoje no flamenco foi consolidado pelos ciganos do bairro Sacromonte, que foram, não se sabe exatamente quando, os primeiros a comercializar seus cantes e bailes.
“ Granada, tierra soñada por mí
mi cantar se vuelve gitano
cuando es para ti...”
Convém dizer que, a pesar de se poder experimentar a essência do flamenco em toda a província, é em sua capital onde o cante jondo é mais sentido. Não é à toa que os bairros de Sacromonte e Albaicín se posicionam como autênticas “Mecas” onde convém peregrinar para se impregnar de artes tão veneradas como a Roa e a Zambra.
“Graná tiene un rastrillo
En la iglesia de Santa Ana
Donde van los flamenquitos
A mirar por la mañana”
O flamenco sempre foi identificado como uma arte de “pueblo”, do povo, do interior. Por essa razão, alguns ilustres autores, ao notar que o flamenco se afastava do vulgar e parecia se comercializar, se preocuparam em resgatar a essência dessa arte. Grandes figuras da cultura, encabeçadas pelo poeta e dramaturgo granadino Frederico García Lorca e o compositor Manuel de Falla organizaram o primeiro concurso de cante flamenco, celebrado em Granada em 1922. Para participar, era imprescindível que os concursantes fossem desconhecidos, pessoas que nunca haviam pisado em um Café Cantante.
Esse concurso marcou o início do que se tornaria o flamenco, e ocorreu precisamente em Granada, uma província que tem papel determinante na história do cante grande. A cidade é uma das principais referências do flamenco na Espanha, sendo o bairro de Sacromonte um dos seus pilares.
Barrio de Sacromonte:
Esse bairro cigano é o epicentro do que os experts chamam “jondura” e “el duende”, onde se originou a zambra, uma festa de cante e baile flamenco que se remonta ao século XVI e, em concreto, aos rituais de núpcias dos mouros da cidade.
O Sacromonte, tradicional bairro dos ciganos granadinos, esconde todo o duende do flamenco andaluz, uma arte que em Granada possui um encanto especial. À zambra, metade moura, metade cigana, deve-se somar as inúmeras peñas flamencas e tablaos existentes. Assim, não é difícil para o visitante desfrutar de um magnífico espetáculo de flamenco.
A imagen do Sacromente é, talvez, a mais genuína do flamenco: cuevas repletas de pessoas admirando a arte do baile. A poucos metros dessas cuevas, se encontra o Auditório Municipal de La Chumbera, que além de contar com o Centro Internacional de Estudos Ciganos, serve de cenário para o Patrimônio Flamenco (ciclo de recitais que se celebra durante todo o ano, com o marco incomparável da Alhambra como pano de fundo).
Albaicín:
“La niña del Albaicín
subió una tarde a la Alhambra
y allí le cogió la noche
llena de luna y de albahaca”
Por outro lado, o bairro de Albaicín oferece outra cara do Flamenco. Nele, imperam “peñas flamencas”, entre elas a pioneira do país, a “La Platería”. Nessas peñas, é possível desfrutar assiduamente de recitais flamencos. No Albaicín, além disso, muitos artistas reconhecidos como Enrique Morente, Juan Carmona ou a família Montoya se reúnem em tabernas, como por exemplo a de Jaime el Parrón. Nesse bairro também se celebra o Festival de Flamenco del Albaicín.
Alhambra:
“A donde yo te conocí.
Sé que se llama la Alhambra.
A donde yo te conocí
Y si a mi alcance estuviera,
Allí me iría a vivir
Contigo de compañera”
“Alhambra” (em árabe Al Hambra, que significa A Vermelha) não é apenas o espaço que abarca este maravilhoso, sublime e artístico complexo palaciano, um dos monumentos mais conhecidos do mundo, declarado “Patrimônio da Humanidade” pela UNESCO em 1984. Seu nome evoca os mais variados aspectos da cultura granadina, fortaleza do sultanato islâmico de al-Andalus, a dinastia Nasrida (1238-1492) e a corte do Reino de Granada, e emblemática colina rodeada das mais felizes e imaginativas histórias e lendas. Da Alhambra escreveu Alejandro Dumas: “Hizo Dios a la Alhambra y a Granada, por si le cansa algún día su morada” (Deus fez a Alhambra e Granada, caso se canse algum dia de sua moradia).
Esse belíssimo recinto, gloria e honra do poder Nasrida na Espanha, se converte, ao decorrer do tempo, em inesgotável fonte de inspiração para poetas, músicos, pintores e todo artista que vê na Alhambra o monumento mais representativo da arte mulçumana. E tanto é assim, que hoje se fala de “Alhambrismo musical”, ou seja, todas as composições inspiradas na Alhambra, realizadas por compositores internacionais.
“y fueron mis mayores
la alhambra y el abasi
mi arte y mis amores
entre el darro y el genil
se oyen los lamento de guadix
Mañana sin ti
pa que quiero la primavera
si ya no te tengo a ti”
Rio Darro:
O rio Darro é um rio que percorre a província de Granada, afluente do rio Genil, que por sua vez deságua no rio Guadalquivir (ver post “Sevilla e as letras do Flamenco”).
Guadix:
Guadix é um município da Espanha na província de Granada. Mas o patrimônio mais curioso da cidade de Gadix é o bairro troglodita. As suas casas são cuevas (covas ou cavernas), escavadas nos montes argilosos, com por vezes apenas a entrada e as chaminés por cima da terra. As cuevas de Guadix são uma criação posterior à época árabe-muçulmana: suas origens se remontam à tomada de Granada, em 1492, pelos Reis Católicos.
LLORANDO POR GRANADA (LA VOZ DE MI SILENCIO)
Dicen que es verdad
que se oye hablar
en las noches cuando hay luna en las murallas.
Alguien habla.
Nadie quiere ir
en la oscuridad
todos dicen que de noche está la Alhambra
embrujada.
Por el moro de Granada.
Dicen que es verdad
que su alma está
encantada por perder un día Granada
y que lloraba.
Cuando el sol se va
se le escucha hablar
paseando su amargura por la Alhambra
recordando y llorando por Granada.
Dicen que es verdad
que nunca se fue
condenado está a vivir siempre
en la Alhambra
y a llorarla.
Al aterdecer
cuentan que se ve
entre sombras la figura
de aquel moro
hechizada.
Por perder un día Granada.
Flamenco em Granada
Artistas granadinos:
Granada é uma cidade e um município espanhol, capital da província homônima, situado na comunidade autônoma de Andalucía.
“Andalucía es mi tierra
el sur me ha visto nacer
Granada me dio la vida
y entre palmas y alegrías
y el sacromonte con sus gitanos
La Alhambra con su poder.
Si Granada no existiera
la tendrían que inventar
fue la musa de pintores,
de poetas y escritores,
y de bohemios enamoraos
Granada bronce y pasión”
[Tati Román – Granada, bronce y pasión]
Granada é, para o Flamenco, uma terra conservadora, imaginativa e criadora de formas flamencas que se remontam a época Nasrida (última dinastia mulçumana na Península Ibérica, responsável pela construção da Alhambra). Esse conceito que a cidade tem hoje no flamenco foi consolidado pelos ciganos do bairro Sacromonte, que foram, não se sabe exatamente quando, os primeiros a comercializar seus cantes e bailes.
“ Granada, tierra soñada por mí
mi cantar se vuelve gitano
cuando es para ti...”
Convém dizer que, a pesar de se poder experimentar a essência do flamenco em toda a província, é em sua capital onde o cante jondo é mais sentido. Não é à toa que os bairros de Sacromonte e Albaicín se posicionam como autênticas “Mecas” onde convém peregrinar para se impregnar de artes tão veneradas como a Roa e a Zambra.
“Graná tiene un rastrillo
En la iglesia de Santa Ana
Donde van los flamenquitos
A mirar por la mañana”
O flamenco sempre foi identificado como uma arte de “pueblo”, do povo, do interior. Por essa razão, alguns ilustres autores, ao notar que o flamenco se afastava do vulgar e parecia se comercializar, se preocuparam em resgatar a essência dessa arte. Grandes figuras da cultura, encabeçadas pelo poeta e dramaturgo granadino Frederico García Lorca e o compositor Manuel de Falla organizaram o primeiro concurso de cante flamenco, celebrado em Granada em 1922. Para participar, era imprescindível que os concursantes fossem desconhecidos, pessoas que nunca haviam pisado em um Café Cantante.
Esse concurso marcou o início do que se tornaria o flamenco, e ocorreu precisamente em Granada, uma província que tem papel determinante na história do cante grande. A cidade é uma das principais referências do flamenco na Espanha, sendo o bairro de Sacromonte um dos seus pilares.
Barrio de Sacromonte:
Esse bairro cigano é o epicentro do que os experts chamam “jondura” e “el duende”, onde se originou a zambra, uma festa de cante e baile flamenco que se remonta ao século XVI e, em concreto, aos rituais de núpcias dos mouros da cidade.
O Sacromonte, tradicional bairro dos ciganos granadinos, esconde todo o duende do flamenco andaluz, uma arte que em Granada possui um encanto especial. À zambra, metade moura, metade cigana, deve-se somar as inúmeras peñas flamencas e tablaos existentes. Assim, não é difícil para o visitante desfrutar de um magnífico espetáculo de flamenco.
A imagen do Sacromente é, talvez, a mais genuína do flamenco: cuevas repletas de pessoas admirando a arte do baile. A poucos metros dessas cuevas, se encontra o Auditório Municipal de La Chumbera, que além de contar com o Centro Internacional de Estudos Ciganos, serve de cenário para o Patrimônio Flamenco (ciclo de recitais que se celebra durante todo o ano, com o marco incomparável da Alhambra como pano de fundo).
Albaicín:
“La niña del Albaicín
subió una tarde a la Alhambra
y allí le cogió la noche
llena de luna y de albahaca”
Por outro lado, o bairro de Albaicín oferece outra cara do Flamenco. Nele, imperam “peñas flamencas”, entre elas a pioneira do país, a “La Platería”. Nessas peñas, é possível desfrutar assiduamente de recitais flamencos. No Albaicín, além disso, muitos artistas reconhecidos como Enrique Morente, Juan Carmona ou a família Montoya se reúnem em tabernas, como por exemplo a de Jaime el Parrón. Nesse bairro também se celebra o Festival de Flamenco del Albaicín.
Alhambra:
“A donde yo te conocí.
Sé que se llama la Alhambra.
A donde yo te conocí
Y si a mi alcance estuviera,
Allí me iría a vivir
Contigo de compañera”
“Alhambra” (em árabe Al Hambra, que significa A Vermelha) não é apenas o espaço que abarca este maravilhoso, sublime e artístico complexo palaciano, um dos monumentos mais conhecidos do mundo, declarado “Patrimônio da Humanidade” pela UNESCO em 1984. Seu nome evoca os mais variados aspectos da cultura granadina, fortaleza do sultanato islâmico de al-Andalus, a dinastia Nasrida (1238-1492) e a corte do Reino de Granada, e emblemática colina rodeada das mais felizes e imaginativas histórias e lendas. Da Alhambra escreveu Alejandro Dumas: “Hizo Dios a la Alhambra y a Granada, por si le cansa algún día su morada” (Deus fez a Alhambra e Granada, caso se canse algum dia de sua moradia).
Esse belíssimo recinto, gloria e honra do poder Nasrida na Espanha, se converte, ao decorrer do tempo, em inesgotável fonte de inspiração para poetas, músicos, pintores e todo artista que vê na Alhambra o monumento mais representativo da arte mulçumana. E tanto é assim, que hoje se fala de “Alhambrismo musical”, ou seja, todas as composições inspiradas na Alhambra, realizadas por compositores internacionais.
“y fueron mis mayores
la alhambra y el abasi
mi arte y mis amores
entre el darro y el genil
se oyen los lamento de guadix
Mañana sin ti
pa que quiero la primavera
si ya no te tengo a ti”
Rio Darro:
O rio Darro é um rio que percorre a província de Granada, afluente do rio Genil, que por sua vez deságua no rio Guadalquivir (ver post “Sevilla e as letras do Flamenco”).
Guadix:
Guadix é um município da Espanha na província de Granada. Mas o patrimônio mais curioso da cidade de Gadix é o bairro troglodita. As suas casas são cuevas (covas ou cavernas), escavadas nos montes argilosos, com por vezes apenas a entrada e as chaminés por cima da terra. As cuevas de Guadix são uma criação posterior à época árabe-muçulmana: suas origens se remontam à tomada de Granada, em 1492, pelos Reis Católicos.
LLORANDO POR GRANADA (LA VOZ DE MI SILENCIO)
Dicen que es verdad
que se oye hablar
en las noches cuando hay luna en las murallas.
Alguien habla.
Nadie quiere ir
en la oscuridad
todos dicen que de noche está la Alhambra
embrujada.
Por el moro de Granada.
Dicen que es verdad
que su alma está
encantada por perder un día Granada
y que lloraba.
Cuando el sol se va
se le escucha hablar
paseando su amargura por la Alhambra
recordando y llorando por Granada.
Dicen que es verdad
que nunca se fue
condenado está a vivir siempre
en la Alhambra
y a llorarla.
Al aterdecer
cuentan que se ve
entre sombras la figura
de aquel moro
hechizada.
Por perder un día Granada.
Flamenco em Granada
- Enrique Morente (cante)
- Estrella Morente (cante)
- Eva la Yerbabuena (baile)
- Frederico García Lorca (poeta)
Glossário
- Cante grande: Expressão subjetiva de denomina os estilos mais solenes do cante. Cante exímio, bem interpretado.
- Cante jondo: Inclui os estilos com ressonâncias arcaicas. São cantes mais solenes e de grande força expressiva, primitivos, com base em sentimentos transcendentais e profundos.
- Duende: Encanto misterioso e inefável do cante. É uma expressão poética que dá nome à magia intrínseca do flamenco, um estado sublime de inspiração, quase um êxtase, um transe, que se apresenta de forma inesperada, sem justificação aparente e que não tem duração fixa. Para os flamencos, é um estado de exaltação que se manifesta nos seus intérpretes. É um sentimento que se observa, sobretudo nos palos por fiesta.
- Peñas flamencas: são uma maneira recomendável para experimentar uma sessão de cante grande. No bairro Albaicín são encontradas algumas das mais representativas da capital granadina. Geralmente as peñas são formadas por um grupo de amigos que se reúnem para compartilhar sua grande paixão: o cante jondo. Nas peñas se conversa, se canta e se vive o flamenco. Também se celebram atuações e recitais. Granada tem a honra de contar com a pena flamenca mais antiga do país, a de “La Platería”.
- Tablao: é um bar em que se oferece espetáculos de flamenco ao vivo. Começaram a surgir na década de 60 por toda Andalucía, substituindo os antigos Cafés Cantantes. Seu nome faz referência às taboas de madeira que compõem esses locais.
- Zambra: é ambos o local onde acontecem os espetáculos flamencos do Sacromonte e um palo flamenco.
Fontes:
- http://www.folcloreyflamenco.com/index.php/Antropologia/La-Cultura-Andaluza-en-el-Flamenco.html
- http://www.turgranada.es/flamenco/flamencodetalle.php?id_seccion=53
- http://www.folcloreyflamenco.com/index.php/CULTURA-FLAMENCA/La-Alhambra-en-el-flamenco.html
Fotos:
- Paula Andrade e Javier Yuste
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