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Manu Ángel.

sábado, 7 de abril de 2012

MeU PRimEiRo BaiLe

(ou Sobre como o flamenco entrou em minha vida)
Por: Daniela Avelar


40 anos se passaram e lá estava eu, novamente às turras com a menina bailarina. Era preciso romper. Eu sabia. Subimos no tablado. Eu, a menina e o medo - outro velho companheiro. A menina insistia: “-Olha lá, heim? Tem que ser reto. Perfeito. Sem erro. Milimétrico. Se não for assim, não serve!” Seus incansáveis bordões congelavam o sopro tímido de coragem que minh’alma tentava exalar. Sim. A alma estava lá. Sempre esteve. Envolta em cobranças e culpas. Mascarada pelas confusões. Sofrida. Judiada. Abusada. Cansada. Mas presente.

O baile era por tangos. Homenagem a Pablo Ruiz Picasso. Movimento permanente. Versatilidade. Transgressão. Busca incessante de novas formas. Era preciso romper. Eu sabia. E ainda: eu iria dançar a fase rosa de Picasso. Aquilo pedia leveza, luminosidade, alegria. Em que recôndito tudo isso estaria? E foi assim que o flamenco entrou em minha vida. Sem pudor nem restrições. Rasgando o lacre que asfixiava o lá dentro. Enquanto eu sapateava, esmagava com força o muito daquele todo que me congelava. Surpresa. Meu coração batia. E eu sentia. Era hora. Deixar prá traz o desespero. A melancolia. O azul sofrido do artista. A mesma mão que pintara a dor e o abandono poderia pintar também a leveza, a delicadeza. E celebrar a vida.

Depois da fase rosa, o realismo. Desci do tablado. O momento fora único. Pleno. Indescritível. Mas a verdade me chamava. Havia muito trabalho pela frente. O medo havia se transformado em fumaça. A menina havia ficado para traz. Era preciso construir a mulher.

"Na realidade trabalha-se com poucas cores. O que dá a ilusão do seu número é serem postas no seu justo lugar." Picasso.

SOBRE O ARTISTA

Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno María de los Remedios Cipriano de la Santíssima Trinidad Ruiz y Picasso, ou simplemente Pablo Picasso nasceu em Málaga, Espanha, em 25 de outubro de 1881 e morreu em Mougins, França, em 08 de abril de 1973. Foi pintor, desenhista, ceramista, escritor e escultor. Um dos grandes mestres da arte do século XX. Sua obra é grosseiramente classificada em seis períodos:

Período azul (1901 a 1904): obras sombrias em tons de azul e verde. A cegueira é tema recorrente. Retrata dor. Melancolia. Influenciada pelo suicídio de um grande amigo.

Período rosa (1904 a 1906): retorno do artista à alegria da vida. Cores: rosa, laranja e tons de vermelho. Saltimbancos e crianças. Retrata a paixão pelo circo. Influenciado por Fernande Olivier, seu primeiro grande amor.

Período africano (1907 a 1909): o artista se inspira em figuras da África.

Período cubista: as formas naturais foram alteradas para geométricas. Foi mais intenso entre 1907 e 1911, mas extendeu-se por toda a vida de Picasso.

Realismo (1914 a 1945): o artista se afasta um pouco do cubismo e foca na realidade da Primeira Guerra. Em 1937 pinta Guernica, considerado sua obra prima. Esta obra já pertence ao expressionismo e mostra a violência e o massacre sofridos pela população da cidade de Guernica, quando do bombardeio da antiga capital basca pelos aliados alemães de Franco, em abril de 1937.

(Guernica)

Na última fase de sua vida, aborda a alegria do circo, o teatro, as touradas e muitas passagens marcadas pelo erotismo.


(Daniela Avelar, aluna do estúdio Tirititrán e mulher em construção)