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Manu Ángel.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Verdiales e Rondeñas - Cantes de Málaga

(mapa de Andalucia, região sul da Espanha,
berço do Flamenco, com a região de Málaga em destaque)

Basicamente, os fandangos podem ser:

1. Locales ou Comarcales cujo representante mais conhecidos são os de Huelva e os Malagueños, dentre os quais incluem-se os Verdiales e as Rondeñas.

2. Personales (também chamados de Naturales ou Artísticos e que não passam de criações individuais de artistas flamencos em cima da forma tradicional do fandango.

Poveda, Cantes de Málaga.

Os fandangos mais antigos de que se tem notícia são, exatamente, os de Málaga, com suas formas tradicionais - os Verdiales e os Fandangos Abandolaos, de onde originaram-se as Rondeñas. Sendo que os Verdiales, de compasso ternário e bailáveis de natureza, são ainda mais antigos que os Abandolaos pois remetem à uma época anterior ao surgimento do Flamenco.

Seu acento tem uma certa relação com formas musicais mouras arcaicas, percebidas em algumas modalidades de baile e no característico acompanhamento com violinos, castanholas e panderetas (que acompanham alguns estilos locais de Verdiales). Mas acredita-se que essa relação só passou a existir depois de seu contato com o flamenco, assimilando dele algumas características. Por muito tempo, a idéia de que os Verdiales seriam uma espécie de fandango arábico-andaluz predominou. No entanto, a prenda mais característica das "Fiestas de Verdiales" - o sombrero de flores e laços - remetem a épocas pré-flamencas, anteriores à invasão árabe.

(prendas verdialeras)


(panda de verdiales)

A forma folclórica evoluiu pouco, mas deu lugar à uma forma flamenca, perdendo o acompanhamento tradicional das pandas, feito com diversos instrumentos (como violino, bandolim, platinellos e palillos), passando a ser feito somente à guitarra ("a bandola"). É daí que surgiu o termo "abandolao" que é aplicado a alguns outros estilos de cante.

♫ Enfermo estoy yo de amores
y vivo crucificao
me sonríen nuevas flores
y no las quiero tocar
por no manchar sus colores ♫

Curiosade: O termo "verdiales" remete à zona "olivaneira" onde é comum o cultivo de uma espécie de azeitona denominada "verdial" que não perde a sua coloração esverdeada nem mesmo quando está madura.

A Fiesta de Verdiales tem raizes muito profundas na cultura malagueña. As pandas, com trajes típicos verdialeiros, seus cantes e seus bailes são fruto de um contexto cultural específico onde foram forjadas e desenvolvidas formas concretas de representação ligadas à estes lugares, mostrando a forma de vida nestes terrenos. Por este motivo, desde 2009 a Fiesta de Verdiales está em processo de ser declarada Bem de Interesse Cultural, na categoria "Atividade de Interesse Etnológico" em vários municípios da província de Málaga. A Festa maior dos Verdiales é celebrada todos os anos, no dia 28 de dezembro, dia dos Santos Inocentes.


Ao contrário de outras manifestações artísticas andaluzas, que perderam sua identidade ao deslocarem-se de seu contexto cultural para academizar-se, os Verdiales sobreviveram às sucessivas colonizações culturais que, uma após a outra, que foram aniquilando gradualmente diversos signos de identidade serranos e costeiros de Málaga e prosperam, como os vinhos, às passas, os povoados brancos de cal das montanhas, sendo transmitidos de geração a geração de maneira ininterrupta até os dias atuais. É uma manifestação genuína e rara de um folclore vivo.


A Rondeña é um fandango local típico e muito antigo que se adaptou bem ao terreno e ao estilo de vida campesino da região malagueña de Ronda. Pertenceu ao cancioneiro popular andaluz antes de ser "aflamencada". É proveniente dos cantes "abandolaos" (devido ao seu acompanhamento com guitarra) e teve significativa popularidade durante a primeira metade do século XIX, sendo citada por diversos viajantes e fazendo parte do repertório de diversos cantaores desta época. Sua propagação no território andaluz foi intensa e por toda a região sul da Espanha cantava-se por Rondeñas.

As Rondeñas perderam um pouco do ritmo do Verdial, comportando-se como cante mais sóbrio e agreste. Há estudiosos que consideram que a Rondeña nasce como consequência do traslado dos camponeses à cidade, fazendo uma ponte entre os Verdiales e as Malagueñas.

É um cante para bailar. Suas coplas são compostas por quatro versos octosílabos que acabam ganhando mais um por repetição do segundo. Também são encontradas coplas de cinco versos (neste caso, não há necessidade de repetição de nenhum deles).

♫ Después de haberme llevao
toa una noche de jarana
me vengo a purificar
debajo de tu ventana
como si fuera un altar ♫



(Projeto Conexão Espanha, do Rio de Janeiro,
com coreografia de Inmaculada Ortega, Rondeña)



(Rondeña)