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Manu Ángel.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Quando eu era pequena...

... meu pai me chamava de Espanhola.

Artigo de Emanuela São Pedro, aluna do estúdio Tirititrán

Eu cresci achando que isso era o melhor elogio do mundo e, desde então, alimentei uma fantasia sobre a Espanha. As espanholas devem ser lindas e a Espanha, um lugar mágico.

Desde pequena eu danço. Já passei pelo ballet clássico, contemporâneo, dança de salão e, no último ano, cheguei ao flamenco. Eu sou rodeada de pessoas que se ligam à Espanha e ao flamenco de alguma forma. Tenho inclusive uma prima que é professora em Joinville, Adriana Alves. Por isso e por outras coisas, acho que minha ligação com esse país e esse povo não se resume apenas a um apelido carinhoso do pai.

Passada a contextualização, fato é que surgiu a oportunidade de ir à Espanha, em abril deste ano. E foi assim, tão de repente, que eu nunca imaginei que meu sonho se realizaria tão depressa. Eu pensei que tivesse de lutar mais por ele, mas foi apenas a vontade enorme que moveu as coisas. Com isso eu deponho a vocês: o mundo move segundo a nossa vontade. Se você deseja do fundo do coração e tem a tranqüilidade de esperar que virá no melhor momento, o mundo conspira a seu favor. E foi assim que embarquei para o meu sonho, onde ficaria por sete dias.

A viagem

Estive dois dias em Barcelona, um deles passando mal dentro do quarto do hotel. A diferença de fuso horário de 5 horas, a mudança nos horários de comer e a comida de avião não me fizeram bem. Então me restou apenas um dia para conhecer tudo que eu gostaria. Não deu pra ver tudo, mas os principais: Casa Batló, La Pedrera, Parque Guel, Ramblas, Paseo de Gracia, Sagrada Familia. Não pude ir ao Estádio do Barcelona, Museu Picasso, Fundação Miró, nem em Barceloneta.


CASA BATLÓ

Recomendo a quem for que compre o ingresso para o Barcelona Bus Turist. Ele possui três rotas e te deixa nos principais pontos turísticos da cidade. Também é uma boa oportunidade para você conhecer a cidade e seu movimento de uma forma geral, e admirar tudo de cima do segundo andar do ônibus. Ele passa de 10 em 10 minutos e você pode descer e desfrutar daquilo que mais lhe interessa.

PLAZA DE CATALUNYA

Minha experiência no famoso restaurante El 4 Gats, onde um dos quatro gatos fundadores foi Picasso, não foi boa. Foi um dos primeiros lugares que saímos (eu fui pra Espanha com meu maridão) e não sabíamos que quando você chega num restaurante, você tem que pedir tudo de uma vez: entrada, primeiro prato, segundo prato, se houver, e quiçá a sobremesa. Aqui no Brasil a gente pede a entradinha e fica horas conversando... ô coisa boa. Esse costume de lá eu não gostei, porque se você é como eu, que não agüenta ficar em pé depois de um belo jantar, a noite termina cedo. Eu não consigo ficar de “conversê” por horas enquanto como a sobremesa, senão durmo em cima dos doces! Bom, o que ocorreu no El 4 Gats é que o garçom não teve a sensibilidade de perceber que poderíamos ter um costume diferente ou a paciência de nos explicar como era o usual. Quando pedimos apenas a entrada, ele já começou a nos xingar, dizendo que ali não era lanchonete. A gente até poderia tê-lo ajudado a nos entender, mas ficamos com raiva de tamanha grosseria. Nos deslocamos para onde ele indicou como o lugar de quem faz apenas lanche, longe do som do piano comemos muito a contra-gosto e fomos embora.

Barcelona poderia ter sido uma péssima experiência: passei mal um dia todo, vi poucos pontos turísticos e ainda levamos sabão do garçom mal educado. Mas não foi. Eu vi as obras tão sonhadas de Gaudi e me emocionei por estar lá! A cidade é um charme só, as pessoas alugam e andam por toda parte de bicicletas públicas. O trânsito é ótimo, o metrô te leva a qualquer parte e você pode andar na rua a qualquer hora, ela estando vazia ou não, que não há problema.

Sobre o metrô e a segurança, é assim também em Madrid. Eu andei por toda a parte enquanto meu marido estava no evento que foi participar e, ao final dos cinco dias, eu já tinha toda a região central registrada num mapinha na minha cabeça. Conheci pontos turísticos (Palácio Real, Puerta de Alcalá, Plaza de Cibeles, Plaza Mayor, Museu do Prado [com Velasquez, Goya,etc], Museu Reina Sofia [Picasso, Miró e outros. Guernica de Picasso está lá]), mas também quis participar da vida dos madrileños (fiz siesta tirando soneca no Parque do Retiro, visitei locais menos centrais como o bairro que rodeia a estação de Oporto).

PUERTA DE ALCALÁ

PLAZA DE CIBELES

PALÁCIO REAL

PLAZA MAYOR

Nesta cidade também vale a pena pegar o Madrid Vision, o correspondente ao Bus Turist de Barcelona. Ele faz apenas duas breves rotas, se você for objetivo como eu, em um dia roda tudo e sente a movimentação da cidade, participando do trânsito. É legal também o serviço do AeroCity, que faz o traslado hotel-aeroporto, aeroporto-hotel com um bom preço. Você pode reservar aqui do Brasil, antes da viagem. Mas se você for com poucas malas, o melhor transporte para este trajeto é o metrô. Há uma estação no Terminal 4 do Barajas e é muito em conta.

Madrid é uma cidade mais urbana, diferente de Barcelona. Porém, há muitos prédios antigos lindos, a cidade é toda história e isso a faz diferente de nossas cidades grandes e urbanizadas aqui do Brasil. Uma delícia é passear e ver as lojas das redondezas da Puerta Del Sol, como na Calle Preciados, principalmente. Não deixe de ir à Casa de Diego, ver sombrinhas e leques de qualidade, e a Antigua Pasteleria Del Pozo, com ares do século XIX.

Em Madrid as lojas mais tradicionais fecham de 13h às 17h para a siesta, como ocorre em Anton Martín, próximo à Escola Amor de Dios e você também precisa chegar no restaurante, e pedir entrada e pratos principais todos de uma vez. Dessa forma, eu não fui mais destratada. Outra coisa linda é que nesta época do ano o sol se põe às 21h. Isso mesmo. Você sai pra jantar com a noite ainda dia!

O flamenco

Eu conheci o Flamenco jenuíno em Madrid. O flamenco vive, o flamenco vivo.

TEATRO LOPE DE VEGA



TVSpain - Spain on Video

Eu fui ao Teatro Lope de Vega assistir ao espetáculo Carmen, da companhia Sara Baras.

SARA BARAS MOSTRA UMA VISÃO PARTICULAR DE "CARMEN"',
EM SEU ÚLTIMO ESPETÁCULO DE FLAMENCO E DANÇA.

Abaixo alguns trechos do espetáculo:





Puxa, que show! Simplesmente sensacional. Sara, que interpretou Carmem, Luis Ortega, que fez Don Jose, e José Serrano, el torero, destruíram no palco.


JOSÉ SERRANO, EM "SABORES", DA CIA. SARA BARAS

O espetáculo é um exemplo belíssimo de como o flamenco saiu dos tablados e ocupou o palco de um grande teatro com maestria. Sara, que fez a direção do espetáculo, mesclou de forma fantástica os bailes flamencos com a clássica ópera de Bizet. Eu não tenho como negar que este flamenco mais contemporâneo me encanta. É ele que eu quero pra minha vida.

Também assisti a um espetáculo de tablado na tradicional taberna Casa Patas. Vale a pena ir. A comida é maravilhosa, a sangria é divina e os profissionais que lá se apresentam são na maioria de muita qualidade. Infelizmente não me agradou muito os dois bailaores que lá se apresentaram no dia que eu fui. Não cabe aqui citá-los. A técnica é boa, mas faltou leveza, faltou fazer força sem demonstrar que é difícil. Faltou chegar ao ponto dos grandes, quando domina-se o corpo, a música e o conjunto da dança. Mas talvez seja pedir demais, neh? A experiência foi ótima. Destaque para a bailaora Olga Pericet, que fez bonito.

Com meu pouco conhecimento, eu consegui identificar quais bailes estavam sendo interpretados e até ajudar nas palmas. Obrigada minhas queridas professoras Paulinha e Manu. Com pouco tempo de aula no Tirititrán, eu não fiz feio. Acho que também não fui mal nas aulas na Escola Amor de Dios, a melhor do mundo. Lá estudei com Candela Soto e conheci a brasileira Klara, aluna dela. Ambas pessoas queridas, que marcaram minha viagem. Candela possui uma técnica perfeita, é exigente e presta atenção em todos os alunos, todos os movimentos. É carinhosa e atenciosa: deixou minha amiga assistir minha aula, eu assistir a aula mais avançada, que seguia a minha, fotografar e gravar. A aula dividia-se em duas partes: a primeira, repetição de exercícios de sapateado, enquanto Candela batia a bengala no contratempo. A segunda parte, sequencia de braços e expressão corporal de uma soleá. Candela e Klara, besos!

COM CANDELA SOTO NA AMOR DE DIOS

A escola tem ares típicos: os corredores não são muito iluminados, há cartazes falando de aulas e de tudo mais do flamenco pelas paredes da secretaria. Nos corredores, muitas fotos de grandes artistas, que fizeram história. E o flamenco pulsa naquele lugar, nas notas de uma guitarra, nos tacons e golpes dos sapatos, na voz de professores e cantaores, no estalo das castanholas. Eu sou muito feliz por ter vivido a experiência de uma semana como aluna da Amor de Dios. Eu vou voltar.


VISITA À AMOR DE DIOS E AULAS COM CANDELA SOTO

Além dos espetáculos e das aulas, eu fotografei figurinos em vitrines e fiz compras flamencas. Os flamenquitos de plantão, em visita por Madrid, não podem deixar de comprar xales de seda na Artesania Reys, Calle Preciados, 11. Possuem cores variadas, são grandes e o preço é muito especial, a metade do que se vê em outros lugares. Essa dica foi da Paulinha e eu aprovei! Castanholas Del Sur e roupas comprei na DeFlamenco.com. As coisas são bonitas, com qualidade, e o preço é razoável. As roupas da tienda Maty - Calle del Maestro Victoria, 2 – são maravilhosas, mas o preço é salgado. Se não puder comprá-las, pelo menos não deixe de visitar a loja e conhecer os modelos. Esses três lugares estão na Puerta Del Sol, tudo pertinho um do outro.

MODELITOS FLAMENCOS DA MATY

Comprei sapatos Menkes, pedi com um mês de antecedência por e-mail para Mercedes e foi com ela que os peguei no meu primeiro dia em Madrid. Deu tudo certo, recomendo. Os sapatos são lindos, qualidade indiscutível. São muito duros, recomendo usar as primeiras vezes com meias e utilizar algum produto que faça o couro ceder. Eu machuquei os pés.

Eu espero cada vez mais ouvir meu coração batendo nos compassos do flamenco. Eu ainda estou começando e como ponto de partida eu tenho energia e amor por essa arte. Ainda faço poucas estripulias no tablado, mas a emoção e a vontade estão dentro de mim prontas para explodir na dança.

Quando eu era pequena, meu pai me chamava de espanhola. Eu cresci achando que isso era o melhor elogio do mundo e, desde então, alimentei uma fantasia sobre a Espanha. As espanholas devem ser lindas e a Espanha um lugar mágico. As espanholas são lindas, cada uma a seu estilo. A Espanha é sim um lugar mágico. É o meu lugar.

Por Emanuela de Avelar São Pedro – uma flamenquita iniciante, de sorte.

Turismo em Barcelona e Bus Turist: http://www.barcelonaturisme.com/
El 4 Gats: http://www.4gats.com/
Turismo em Madrid: http://www.turismomadrid.es/
Madrid Vision: http://www.madridvision.es/
AeroCity: www.gomadrid.com/aerocity
Casa Patas: http://www.casapatas.com/
Escola Amor de Dios: http://www.amordedios.com/
DeFlamenco.com: http://www.deflamenco.com/
Sapatos Menkes: http://www.menkes.es/
Companhia Sara Baras: http://www.sarabaras.com/

quarta-feira, 6 de maio de 2009

EsaS paLmAs

"Nas palmas flamencas, há mais força na sensibilidade do que no esforço físico", afirma o bailaor espanhol Torombo, e assim dá início a uma de suas aulas para um seleto grupo em Sevilha. Na aula, o cigano "filósofo-do-flamenco", ressalta a importância de se respeitar o ritmo e o compás acima de tudo. Para isso, é necessário controlar a emoção e sentir a música.

As palmas no flamenco são importante instrumento de percussão. Elas, no entanto, servem de adorno para o compasso, por isso não devem nunca sobressair ao ritmo. O domínio da técnica e a sinergia entre músicos, bailarinos e palmeros garantem o bom resultado.

São dois os tipos de palmas praticadas no flamenco: aberta e "sorda" (fechada). Para se tocar bem, é preciso posicionar corretamente as mãos e os dedos. Dessa maneira, é possível alcançar o som exato (alto e seco), com o mínimo de esforço físico. O aperfeiçoamento da técnica, porém, pode levar meses. A intenção correta (força e ritmidade), no entanto, requer anos de prática e estudo. As duas coisas são fundamentais: intenção sem técnica é prepotência; técnica sem intenção é desperdício.


Mi alma escondida

"Porém mais importante que a sua história e as suas técnicas, o flamenco é uma atitude, é a manifestação da alma de uma pessoa. Ser flamenco é colocar para fora sentimentos e emoções trancadas e compartilhá-las através da música, do cante, do baile e dos jaleos”, afirma o bailaor português Raul Morales em um artigo na web. “Os pés golpeiam o chão, alternando passos vigorosos e sutis. As palmas marcam o compasso e enchem de vida cada passo. No rosto do bailarino, a dor ou a alegria da guitarra e da voz do cantaor”, escreve Raul. Para o bailaor, ao contrário de algumas danças que privilegiam apenas adolescentes esquálidas, o flamenco pode ser praticado por qualquer um.

Torombo nos lembra, no entanto, que antes de começar a andar é preciso, primeiro, saber engatinhar - seja no baile, no toque ou no cante. O compasso e o baile, para ele, são como o vinho. "Um vinho barato, quando você bebe, dói muito a cabeça. Assim é o baile e as palmas de muitas pessoas. Isso acontece quando não se sabe esperar tempo suficiente para que o vinho seja um vinho de boa qualidade. Porque o vinho de qualidade tem que estar na bodega - no estúdio -, durante muito tempo. Quanto mais tempo, mais qualidade", afirma.

Para Torombo, dançar é como conduzir um carro. O bailarino explica que antes de se aprender a dirigir, é preciso conhecer a teoria e suas regras, assim como no flamenco. "Para 'conduzir' os sapatos - que são um mero veículo para levar o bailarino aonde ele deseja - é preciso saber as regras do baile. Os sapatos não dançam sozinhos", diz Torombo.

“Una fiesta se hace
con tres personas:
uno baila, otro canta
y el otro toca.
Ya me olvidaba
de los que dicen ‘¡Ole!’,
y tocan palmas”

Referências de vídeo:

Aula do Torombo, em que o bailaor explica a importância das palmas, e como devem ser tocadas

Morente, Habichuela, Gabarre, Kiki e Popo “jugando”

Palmas e ritmo por Mellano Compadres

Reportagem sobre o DVD de Jerónimo Utrilla, "Aprende y práctica las palmas"

Assista aos vídeos de rumba do DVD de Jerónimo Utrilla:
https://www.deflamenco.com/tiendaflamenco/veri.jsp?cod=2911

Artigo de Raul Morales:
http://cdsdr-flamenco.bloguedesporto.com/932/FLAMENCO/

Glossário:

Bailaor: bailarino flamenco
Cantaor: cantor flamenco
Cante: canto flamenco
Compás: compasso
Jaleos: gritos de ânimo e incentivo
Palmeros: músicos que tocam palma